Hoje, é para ti que escrevo. Sim, é para ti, meu menino tonto escondido no rosto de homem, que disfarça o seu coração amargurado com a capa que lhe tapa uma alma envelhecida.

Em ti, no mais profundo de ti, alguém plantou as grades que te impediram de seguir o caminho com que tu sonhavas. Por isso, ficaste a ver o mundo do lado de dentro da vida. Os outros viviam e tu apenas os observavas. Todos te queriam, mas a verdade é que não eras de ninguém, porque todos viviam e tu só sonhavas.

Então, decidiste começar a construir muralhas. Geravas vida nos medos e nos fantasmas. Alimentavas a tua memória com as coisas do passado. Era tudo o que podias ter sem que os outros te tocassem. A princípio, usavas cordas fortes para construir as pontes que te ligavam ao mundo real. Agora, cortas todas as amarras dessas pontes, quando os outros as constroem na tentativa de chegarem a ti.

Sabes, tu achas que é mais fácil dar e, depois, fugir para o castelo muralhado do que amar e sentir que se está a ser amado. Hoje, és tu a não querer receber o que os outros têm para te oferecer.

Hoje, estas minhas palavras são tuas, na noite que já vai longa e espreita pelo dia, mas onde ainda dançam as estrelas que vão passando pela tua rua e que fazem mudar as fases de todas as luas que passam pela tua vida.

Ontem, não te queriam. Hoje, vivem à tua volta. Ontem, sentias em ti a solidão. Hoje, és tu que não te dás e entregas tudo que é teu à solidão.

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