Era tempo de mudar

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De repente, quis aprender novas línguas. Descobrir novas culturas, cultivar novas amizades. Era o momento indicado para parar de fantasiar. Parar de deixar de se iludir, para se permitir sonhar com o recomeço.

Era tempo de mudar a folha daquele calendário, que ficara parado no tempo, tanto tempo.

Era tempo de dar outra cor ao seu horizonte. Vestir outras roupas, cantar outras músicas. Mudar, mudar e não pensar mais no passado. Nada poderia apagar tudo o que já viveu. Porque o tempo lhe deixara as marcas na alma. Recordações na memória, que nenhuma borracha jamais seria capaz de apagar. Mas podia isso sim, podia fechar aquela porta e atirar a chave para o mar, e implorar para que ninguém mais a pudesse encontrar.

Um amor que a desiludira e de quem ela não se conseguia desprender, não poderia ser a razão para ela baixar os braços. Não podia deixar de viver, de se sentir viva. 

Uma vida que a deixou cega, surda e imóvel, onde ela se sentia apenas uma boneca articulada que repetia diariamente os movimentos que aprendera, de modo a satisfazer toda a gente ao seu redor. 

Fazia o mundo feliz e vivia infeliz, que estranha contradição, que estranha forma de vida.

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@angela caboz