Não venhas atrás de mim




Não venhas atrás de mim. Já não há espaço para ti aqui. Não venhas. O teu passo já não tem o meu compasso. Já não entendo o teu idioma. Nem falo a tua linguagem.

Amei-te no passado. Num tempo que já não volta. Foste uma marca dessa época. Um amor que não esquecerei, é verdade, eu sei! Só que hoje é outra a realidade que vivo.

Sei que nos cruzamos há dias. Vinte anos depois. Confesso que não fiquei indiferente. Rever-te mexeu comigo. Mexeu com as minhas memórias. Mas, elas não saíram do seu sítio. Elas remexeram-se e voltaram a aconchegar-se no sótão das lembranças. São lembranças arquivadas. São recordações sossegadas, que já não despertam tentação ao meu coração.

Por isso te digo, não vás ao baú buscar os discos antigos. Aqueles que tantas vezes escutamos juntos. Já não saberemos dançar essas músicas. Não tires da estante os livros cobertos de pó, que nesse tempo te ofereci. Eles já não são uma referência para a nossa história.

A nossa história foi tudo o que vivemos, e que, hoje não podemos alterar.

Há vinte anos tu desapareceste e eu fiquei a chorar. Tu partiste e eu não te quis ir procurar. Sofri, e muitas vezes menti ao coração. Curei as feridas da memória. Arquivei-as na estante do sofrimento. Tratei-as com as lágrimas que verti, afoguei-as no mar da solidão em que naveguei.

Agora já não quero lá voltar.

Mas digo-te, não venhas atrás de mim, já não há espaço para ti aqui.

@angela caboz

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