Foram tempos mágicos

As minhas lágrimas fizeram do deserto um oceano de sofrimentos. As minhas mágoas vertem litros e litros de tristezas, alagando todo aquele terreno árido onde nada cresce. O terreno, onde um dia o nosso amor floresceu. Tempos em que amar, era o único caminho que os nossos corpos conheciam. Os nossos dias eram coloridos e existiam jardins floridos que faziam das nossas vidas um paraíso.

Eramos descendentes de Adão e Eva. Julgávamos que existia eternidade. Não queríamos ver para lá do horizonte. O passado era um álbum vivo, feito de recordações de todos os momentos que íamos partilhando.

Desde que a paixão se instalara entre nós, tínhamos-mos esquecido de que existia um mundo lá fora.

O mundo passou a ser o nosso espaço. O espaço que dividíamos. A paixão que nos alimentava. A cegueira de vivermos um para o outro. O deslumbramento dos nossos sentidos se terem fundido. A ilusão de que eramos apenas um.

Foram tempos mágicos. Sonhos de futuro construídos por dois corações apaixonados. Tempos que sempre serão lembrados. Momento que ninguém nos irá roubar e que não saberemos apagar.

Um dia porém, chegou a tempestade. Um vento forte que fez soprar para longe o nosso amor. Ficamos cada um para seu lado. Costas viradas ao amor. Corpos que se esqueceram da paixão. A ausência que destruiu o que os sonhos tínhamos construído.

Chegaram as lágrimas e o deserto, que era um terreno que eu não conhecia, mas sabia que era árido, foi inundado pelo sofrimento, de quem perdeu o seu amor. Da noite para o dia ali, à frente dos meus olhos, murchavam as plantas que eram o rosto visível da mágoa que agora morava nos nossos corpos.

Aquele mar onde derramei as minhas lágrimas, é o mesmo mar onde tantas vezes te esperei. O areal húmido e frio onde estou agora sentada, oferecendo ao mar as minhas mágoas. O areal onde fiquei a ver passar os navios, implorando para que um dia um marinheiro fique ali comigo.

Sonho acordada. Imploro à vida por um príncipe encantado fardado de marinheiro. Um amor trazido pelas ondas rebeldes que todos os dias rebolam sobre o meu corpo, que adormece esquecido nesta praia.

Eu sei que o mar um dia vai-me dar a paixão que eu procuro. Eu sonho, sonhos com futuro e fujo de ilusões com passado. Sou um corpo carente e um coração sem dono. Sou o que sou e fujo do que já fui.

Afinal o amor anda desaparecido. E a vida lembra-me, que no dia em que eu não sonhar ela te fará voltar, enquanto eu choro aqui sentada nesta praia. Ela trará de volta o amor com que sempre sonhei.


@angela caboz  

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