O silêncio assustava-me


Durante anos o silêncio assustou-me.

Era algo que me metia medo. Não sabia viver sem a ausência de ruído. Precisa dele para me sentir acompanhada. Era o ruído da solidão que me fortificava. Aquela barreira que eu edifiquei, entre mim e o mundo real de que eu fugia.

Olhava para a realidade e não a queria ver. Olhava e rejeitava tudo o que via.

Tinha medo do futuro e do que ele me poderia trazer. Da mesma forma, que fugia do passado, por tudo o que ele tinha deixado em mim. Labirintos de emoções, onde todos os dias me perdia sem me encontrar.

Foram anos em que lutei contra o tempo. Queria que ele passasse e não gostava dele quando ele chegava. Vivia amargurada com as horas e revoltada contra os anos. Não encontrava o meu sorriso e não me libertava das lágrimas. Era refém das tristezas e ignorada pela alegria.

Durante anos eu não queria o silêncio, porque ele me deixava escutar o ruído das memórias que me atormentavam. Eu procurava o ruído da mente, que fabricava ilusões que também não me acrescentavam alegria à minha vida. Só que eu julgava que assim a realidade se assustava e fugia.

Como estava enganada, na minha forma de encarar a vida.

Foi quando descobri que a vida em silêncio me permitia escutar a minha alma e que ela era a minha melhor companheira e confidente. Foi nesse dia, em que o mal me tentou atirar para o abismo, que eu olhei à minha volta e só o silêncio me respondeu. Foi aí que eu percebi o quanto o silêncio era valioso. Foi aí que eu aprendi a escutar o silêncio e a ouvir o ruído do meu coração.

Foi por esse caminho cheio de curvas que andei. Foi ele que me mostrou a saída desse beco sem saída onde me tinha escondido, para fugir da minha própria vida. Foi aí que aprendi a amar o silêncio e a viver em função do amor que espalhava à minha volta para o ver florescer todos os dias.


@angela caboz

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