Deixa que ele te procure!
Ele saiu de livre vontade, sem te perguntar se concordavas. Nem sequer fez as malas, apenas partiu. Deixou tudo o que vos pertencia espalhado pelo vosso mundo. Deixou por ali, no vosso espaço tudo o que vos pertencia, tudo o que sempre dividiram. Sem explicações, partiu. Deixo-te no meio daquela confusão, onde tu como uma louca procuras por uma explicação, no entanto só encontras as recordações. Ele partiu e nem um bilhete te deixou. Partiu, nem sequer em ti pensou.
Tu choraste, dias a fio, procurando por ele entre o frio da cama e calor do desgosto. Viraste o mundo, de pernas para o ar, pensando que ele estava apenas escondido, que era só uma brincadeira. Pensaste que seria só um jogo e que o troféu seria mais uma noite de paixão, como todas as outras que recordas até à exaustão.
Nunca colocaste sequer a hipótese de poder ter sido uma partida, sem volta. Só o tempo te mostrou a realidade e te trouxe a revolta. O tempo foi aumentando a tua desilusão, aquela despedida, sem um adeus, estava a matar o teu coração.
E agora, que o tempo começava a amainar a tua dor. Agora, que sabias onde estava a tua ferida. A marca do teu passado, que o tempo estava a curar. Agora que o sofrimento se limitava à lembrança de um momento. Ele, sem que nada o fizesse esperar, acena-te lá de longe. Ele acena-te do fim do mundo que tu pensaste que não existia. É de lá que ele te diz que afinal ainda existe, ainda anda por aí nesse mundo que já vos pertenceu. Que ainda está nesta vida onde te deixou esquecida e sem notícias.
Mas não cedas. Não lhe abras os braços. Não lhe sigas os passos. Tu melhor do que ninguém sabes que ele deixa pegadas indivisíveis por onde passa, e que, depois não saberás que caminho ele vai seguir.
Deixa que ele te procure! Deixa que ele venha e não somente que se aproxime. Que prove que veio para ficar. Que tenha vontade de ficar. Só depois lhe deves sorrir. Deixa que ele pense que não tem para onde ir, mas que é ali que ele quer ficar. Deixa-o decidir onde quer poisar. Uma ave é sempre livre, o último voo pertence-lhe. Deixa ver onde ele quer poisar.
@angela caboz
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