Eles acreditam no amor


Eles continuavam a acreditar no amor. Eles ainda acreditavam que o amor pode unir dois corpos, num sentimento que julgam ser único. Acreditavam que o amor é divino, que tem a mesma magia da poesia. Que o amor se escreve com gestos que passam para além da fantasia da palavra.

Eles acreditavam que o amor pode mudar o mundo. Que pode calar o grito louco da razão que, tantas vezes, nos (des)controla o coração. Que o amor apaga sofrimentos e faz do desejo o seu único alimento.

Eles ainda acreditavam que podem os dois escrever um poema, que ninguém saberá ler sozinho. Eles gritam ao mundo que ninguém ama sozinho e o amor deles é pura poesia. É um balde de água fresca numa manhã de Verão e um chá quente numa tarde de Inverno. É chocolate quente numa noite amena de um Outono tardio. Numa noite em que juntos acendem a lareira antes do tempo, só para poderem ficar a ver o fogo que lhes ilumina a paixão que lhes veste o coração e lhes despe os corpos, que sem pudor se amavam ali mesmo.

Eles sabem que poderão ser os últimos a acreditar no amor. Ela sente o calor da mão dele que se perde entre os seus dedos frágeis dela, procurando respostas num olhar meigo de quem quase nada precisa dizer para deixar transparecer a paixão que sente. Ele cala-lhe as dúvidas com um beijo quente, que lhe escreve a poesia do amor nos lábios sedentos de aventura. E ficam ali, perdidos, entre o ontem que lhes trouxe este amor e o amanhã que lhes promete novos sonhos.

São apenas dois resistentes que jamais se darão por vencidos. O amor vive entre eles e nunca é esquecido. Nada prometeram um ao outro. Não fizeram juramentos, nem assinaram compromissos. Não precisam de alianças, nem de assentos de casamento. Não terão que justificar ao mundo aquele amor que lhes pertence. Não sentem necessidade de dar justificações, para emoções que são só deles e que não precisam de partilhar com quem não faz parte da história.

Eles acreditam no amor e procuram pela eternidade, que lhes permita acreditar que nunca conhecerão a separação. O amor existe naquela casa, onde a poesia vive entre eles num espaço apertado de um abraço, que nunca é negado. O abraço que trocam todos os dias ao anoitecer, quando se despedem com um até já, sem que se separem, mas apenas porque deixam que os seus corpos adormeçam por vezes horas.

O amor é esse castelo em que eles se tornam reis. Eles acreditam no amor e não há dor que lhes chegue. Estão convictos de que a história deles é muito mais do que um conto de fadas. É mais uma realidade que não receiam viver, porque quem se alimenta de amor jamais pensa em sofrer.


@angela caboz  

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