Viajar é auto-cura



Viajar, mesmo quando não saio do lugar, faz-me crescer a alma. Viajar faz-me esquecer e, ao mesmo tempo, descobrir tudo o que não me falta viver. Voar pelos céus desse universo, contemplando outros mundos, sentindo o vento de outros sentimentos obriga-me a despejar o saco das lembranças que me fizeram feridas no coração.

Viajar cura. Viajar é auto-cura. Enquanto ando por aí, pelos caminhos que os meus olhos não conhecem, o meu coração deixa de lamentar as escolhas que fez. Viajar faz-me quebrar a barreira da ilusão de tudo o que, por magia, um dia, deixou de funcionar. Faz-me desenhar novas linhas no meu horizonte. Imaginar um pôr do sol longínquo, onde tudo pode ser perfeito.

Todos nós deveríamos pensar em viajar sempre que o desgosto nos começa a piscar o olho. Quando a dúvida aparece deveríamos partir sem data para voltar. Ir ao encontro da natureza. Abraçar flores, respirando o seu perfume que nos faz sonhar com o paraíso. Ficar ali sentados, escutando a música das aves, que são eternamente livres. Viajar é isso mesmo, a liberdade de podermos andar por aí sem horas, nem calendários que nos aprisionam a vida.

Viajar é ganhar asas e continuar a pisar o chão. É andar pelo mundo sem sair do seu recanto. Dormir no divã dos sonhos e acordar no jardim da vida. Não ter medo de aterrar numa paixão, nem de fugir da tempestade de um amor. É ter ousadia para enfrentar o outro que não conhecemos e dizer-lhe um olá que nunca mais esqueceremos. Fazer dele um membro da família que não temos. É pertencer ao mundo sem deixarmos de ser quem somos. Andar por aí, por terras de ninguém que pertencem a toda a gente.

Fui fazendo todas essas viagens, poucas delas reais, que cresci de dentro para fora. Foram essas viagens que me mostraram quem eu sou. Foi nelas que descobri tudo o que os outros viam e eu ainda não conhecia. Viajando vi-me, como nunca me imaginei, e fui feliz como jamais sonhei. Viajei ao mais íntimo de mim e foi aí que me encontrei. De todos os lugares que conheci, foi em mim que mais me senti em casa. Foi na minha paisagem que encontrei o lugar ideal para acampar na minha história. Foi em mim que decidi viajar pela vida.

Todos deveríamos fazer esta viagem. Deveríamos libertar-nos do passado e, ainda antes de pisar a linha do futuro, viajar pelos quatro cantos da nossa alma, que tantas vezes não conhecemos. Devíamos fazer os reconhecimento dos nossos cantos onde, por vezes, nos perdemos. Devíamos viajar pelas nossas sete maravilhas e pegar nos retalhos de cada uma delas e fazer a história da vida que gostaríamos de viver. Só quando conseguirmos descobrir quem somos poderemos terminar a nossa viagem.


@angela caboz

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