Amar completa-nos! (site)


Amar completa-nos!

Sempre foi essa a imagem que eu criei do amor. O amor teria que ser sempre plural, só assim poderia completar dois seres que se entregam a ele, para viveram em plenitude. Foi assim, dessa forma colorida, que eu fui desenhando o amor. Fui-lhe dando forma nos meus sonhos, enquanto o procurava de forma exaustiva nas ruas vazias da vida que eu ia enchendo com os retalhos de amor que colhia por onde passava, sem sequer olhar para a paisagem.

Sempre vi o amor dessa forma. Cresci com esse sonho. Vivo com essa ilusão. Na verdade, o amor para mim nunca foi plural, porque desde sempre me lembro de amar sozinha. Nunca a vida me ofereceu um amor que me amasse com a mesma intensidade que eu amei. Talvez por isso, sinta que tenho excesso de amor acumulado em mim. Ao mais pequeno sinal há logo estilhaços desse amor por todo o universo. Ainda o amor não se mostrou e já eu o sinto entranhado em mim. Ainda ele não chegou e eu já vivo abraçada a ele. Aprendi a amar sem esperar a resposta do outro lado, o meu amor dá e sobra para amar pelos dois. Tenho excesso de sentimentos para entregar, tantos que por vezes me chegam a sufocar.


Mas em boa verdade, tão depressa chegam, como depressa partem. Chegam prometendo muito e partem sem deixar nada. Talvez seja esse o problema, os amores partem vazios porque não me chegam a amar. Os amores não se perdem em quem eu sou e partem mais sozinhos do que chegaram. São amores que me batem na porta para cumprimentar, mas que não trazem com eles a intenção de ficar. São amores nomadas, que não querem acampar na vida de ninguém.

Por vezes, penso que não fui moldada à imagem do amor. Fui feita num outro formato qualquer e, por isso, a vestimenta do amor não me assenta muito bem. É assim como se fosse um vestido demasiado largo para mim. Talvez seja por essa razão, que quando dou dois ou três passos em frente o vestido caí. Eu bem tento segura-lo com as mãos, mas logo chega um vento forte e todo ele voa. Tento agarra-lo com força, mas ele ganha sempre esse braço de ferro. E quando olho para mim já estou ali no meio da rua, nua e abandonada. Abandonada ao sabor de uma qualquer tempestade que me vai provocar um tsunami de desgostos.

É sempre assim, amor vai, amor vem e eu continuo por aqui sozinha. Abandonada a mim mesma. Deve ser sina, ter amor para dar e não existir quem o queira receber. Ter vontade de partilhar e o amor recusar-se a ficar. É por isso, que o meu coração pode rebentar a qualquer segundo de tão cheio que está de amor.

Tanta gente na rua da vida e eu sozinha sem ter a quem amar. Sim, sinto-me perdida dentro de mim e quando me encontro acabo ainda mais perdida. A vida não me compreende, o amor foge de mim. O amor completa-nos, mas eu continuo incompleta, falta-me uma metade que encaixe em quem eu sou.


@angela caboz

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