Saudade tola






Nunca um tolo me pareceu tão tolo como no dia em que olhei para o meu mundo e não fui capaz de te encontrar.
O meu olhar perdeu-se naquelas ruas que conhecia de olhos fechados, mas naquele dia não reconheci nenhum dos recantos por onde costumava passar, e por isso perdi-me em mim. Naquele dia o sol chegou atrasado e foi a escuridão que me cumprimentou no meio de uma cidade adormecida, para me lembrar que tu não estavas por perto.
A loucura de me imaginar sem ti fez com que o mundo me começasse a parecer um lugar estranho. Era como se de repente aquele tivesse deixado de ser o lugar onde sempre vivi. 
A saudade agarrou-se a mim e vestiu-me com as lembranças de tudo o que eu queria esquecer. A saudade teceu um lençol com os retalhos dos nossos momentos e naquele momento tudo o que me apetecia era rasgar as memórias desse amor que me tinha deixado o corpo gelado.
Lembrar-me dos momentos que vivemos era como vestir um vestido de criança numa mulher adulta, o vestido iria parecer que lhe servia mas dentro de pouco tempo acabaria por rebentar pelas costuras.
O mundo já não tinhas as nossas cores e tudo à minha volta parecia adormecido. Sem ti nada mais faria sentido e naquele momento eu era uma tola que se arrastava pelas ruas da sua vida sem saber para onde caminhava. 
Olhei-me na montra da melhor loja da cidade e assustei-me com a minha cara de tola. O meu olhar de mulher abandonada estava estampado naquele cara, a cara de uma mulher que não dormiu para procurar o rosto de um amor que fugiu dos sonhos na maior noite que a sua vida conheceria.

@angela caboz  

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