É complicado olhar para trás

É complicado olhar para trás, para o tempo que já não nos pertence. Tentar voltar a pisar as memórias do que vivemos. É complicado querer parar o tempo, ou então acelerá-lo. Ter pressa de viver para fugir do que não deixa boa memória, ou em contrapartida querer que a vida pare naquele exacto momento em que tudo parecia perfeito.

Queremos ver só alguns momentos, sem que a memória revolte toda a gaveta encontrado as saudades que estão embrulhadas no nosso coração. Esse papel feito de ilusão, que embrulha toda a nossa história e que acomodamos na gaveta principal da nossa alma.
É ali, que estão bem guardados todos os segundos que vivemos. Quando, ao acaso, queremos olhar para um tempo que ficou lá atrás, há sempre algo que não queremos, mas que vem agarrado aos bons momentos que tivemos e que queremos recordar. 

É complicado quando queremos escrever a história da nossa vida e não conseguimos filtrar das nossas saudades, as mágoas que não desejavamos que voltassem à nossa memória. Quando (des)escrevemos as verdades que contam quem somos e encontramos os erros em que nos afundamos e que nos fizeram verter lágrimas de que agora não queríamos voltar a sentir o sabor. 

Queremos contar quem fomos e o que fizemos, para sermos quem agora somos e de repente derrapamos em detalhes escondidos pelo nosso inconsciente que nem o tempo foi capaz de apagar. Detalhes que nos mostram os erros que cometemos. Queremos desenhar a nossa viagem pela vida, mas há sempre um detalhe nessa foto que não nos deixar ter um sorriso completo. 

Não existe forma de apagar o que não foi bom, porque na verdade sem essas quedas não estaríamos agora aqui. Teríamos feito outro percurso e teríamos outras curvas no nosso corpo. 

É complicado, mas eu sou assim e é assim que me posso apresentar quando te digo quem sou. Há aqui algumas rugas que fazem parte de mim. Foi assim que reparaste em mim, em quem eu sou e será assim que vais gostar de quem seremos a partir desse dia.

@angela caboz