Maria dos porquês



Poderiam chamar-me a “Maria dos porquês”.
Vocês não sabem mas, tenho passado a vida a questionar-me. São anos e anos adormecer com dúvidas e acordar com perguntas. E desde de que me reconheço já perdi a conta aos anos, são demasiadas horas em que me confrontei com o tempo e mesmo assim, ainda não consegui atingir o patamar das respostas a tudo o que quero ver esclarecido.
Quem sou, para onde vou. Quem vou amar, quem é o meu amor. Porque me sinto triste e porque não me apetece sorrir.
Vou parar por aqui, são tantas as perguntas que  tenho coleccionado ao longo dos anos, que na realidade poderia dizer que sou um vulcão de dúvidas e de incertezas. Cada passo dado uma dúvida, a cada dia, que vejo nascer, aparece mais uma pergunta. Sempre assim foi, e sempre assim será, é este o trilho da minha existência, uma teia de perguntas onde me perdi e de onde não sei sair.
Caminho na vida ao acaso, procurando uma alma gémea, sem saber onde procurar, duvido que ela possa existir. Um dia escutei a voz do vento, dizendo-me ela ia aparecer ao acaso, sem que eu tivesse de a procurar. Mas, o vento mudou e ela não apareceu. O vento rodou noutra direcção, eu fiquei aqui no mesmo lugar à espera de a encontrar, coleccionando dúvidas a que a vida não respondia. Ainda aqui estou e ela teima em não aparecer.
Perguntei à lua, se a minha alma gémea chegaria, ela respondeu que sim, que só tinha que ter paciência, o que o destino me prometera iria chegar. Mas, a lua mudou de fase, o seu brilho desapareceu, ficou escuro numa noite de lua nova e com sempre esperei e não chegou nenhuma novidade.
Vivo assim, sempre na dúvida. Vivo com a música do “porquê” e “quando” na alma e no coração.
Queria saber qual a razão por que nunca tenho resposta às minhas perguntas. Compreender por que não existem explicações para a minha existência. Saber por que duvido de tudo e só vejo incertezas à minha volta.
Acho que sou como um livro, a minha vida são as histórias armazenadas na minha mente, aqueles pequenos detalhes que vão aos poucos engrossando a dimensão da memória e que se alimentam com a química existente na dúvida. Nada passa para esse arquivo, sem antes ser interrogado e questionado. Aqui tudo terá que ter um porquê, uma razão de ter existido, uma explicação para ter aparecido. O cérebro ensinou-me que nada acontece ao acaso, tudo tem uma explicação, por isso, as hormonas  precisam tanto dessa seiva que emana da dúvida.
Gosto tanto de fantasias, que até já procurei a fada, porque alguém me disse que elas existiam e nos protegiam. Queria saber com estava o céu no dia em que nasci, que estrelas brilhavam, que planetas rodavam, onde estavam as constelações, como era o universo no exacto momento em que eu vim ao mundo. Precisava saber como o mundo olhou para mim naquele instante e perceber porque foi que nasci assim.
Andei pelo mundo, perguntei aos profetas e aos poetas, aos cientistas e aos mágicos, aos professores e aos alunos, mas ninguém me sabe dizer como tudo estava e porque o destino me fez assim, um poço de dúvidas e perguntas.
A minha mãe sempre me pediu para não ser tão curiosa, porque quem tudo quer saber, nada lhe contam. Dizia-me que tudo acontece ao acaso, desenhado pela nossa sina, que quando nascemos já trazemos o nosso fado. Tudo tretas, nada na vida são coincidências, tudo a ciência explica e os homens complicam.
Tem que existir uma resposta às perguntas sobre a minha existência. Alguém tem que me saber explicar porque vim ao mundo naquele preciso minuto, nem uns segundos antes, nem umas horas depois, e a resposta tem que estar no universo. Ele tem a resposta para tudo o que existia neste mundo, com vida.
Cresci, contrariada, de pergunta em pergunta, de porquê em porquê, sem que ninguém soubesse calar a minha sede de respostas, sem que ninguém soubesse dizer porque estamos aqui agora e não noutra época qualquer.
Mas, a minha persistência obriga-me, a seguir este caminho sinuoso e a acreditar que ao fundo do túnel terá que estar uma resposta a todas as minhas questões.
Talvez lá esteja a minha fada madrinha, a minha alma gémea e tudo o mais que dizem que temos. Lá estarão as respostas que tanto procuro e ali estarão as dúvidas que me perseguem desde sempre. Só que o caminho a percorrer é tão longo que me parece que cada vez estou mais longe o fim.
Já perceberam agora porque poderia ser a “Maria dos porquês”? É que eu não existo sem que faça mil e uma perguntas, que normalmente ninguém me sabe responder.
@angela caboz

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